A primeira lição que aprendi, não como instrutora, mas como funcionária em um ambiente de alta pressão, foi que ninguém muda por um slide. Ninguém se importa com um protocolo que não faz sentido na sua vida real. Minha jornada começou no turbulento universo dos call centers, onde metas agressivas e a exposição de resultados transformavam o ambiente em um campo de batalha competitivo. Eu mesma já fui a gestora agressiva, que usava a crítica como arma, mas descobri o verdadeiro poder da conexão.
Quando assumi meu primeiro treinamento, ignorei o script engessado. Em vez de ler slides, eu me sentei e olhei para aquelas pessoas, enxergando nelas não cobradores ou vendedores, mas pessoas com contas a pagar, medos e sonhos. Fui a primeira instrutora a alcançar a meta em anos, não por táticas de vendas, mas porque usei a introspecção como arma. Eu compartilhava histórias genéricas de vida e fazia uma pergunta simples: “O que você faz por você, além de trabalhar aqui?”
Em poucos dias, a energia mudava. O funcionário, que antes sentia raiva da meta, passava a encará-la como um degrau para sua vida pessoal. Eles pararam de ver o risco (ou o erro) como algo que a empresa impõe, e sim como algo que eles têm o poder de evitar, para si e para os seus.
É essa a ponte que construo: Transformar ambiente em consciência, pois cada espaço é um espelho, um reflexo, uma escolha. Eu entendo a pressão por lucro, mas o maior ativo da NR-01 não é um documento; é o ser humano que decide, todos os dias, agir com segurança. Quando o colaborador se enxerga como dono da sua própria vida e ambição, a produtividade e a segurança se tornam consequências inevitáveis.
Por: Daniela S. Alves

Consultora em Fatores de Riscos Psicossociais e Especialista em Gestão de Pessoas em Call Center, com experiência prática em setores de serviço. Graduada em Letras e com curso de Psicologia em andamento.